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diários da
pandemia

um dia por vez

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conheça as histórias

O mundo todo parou.

A rua está vazia.

O céu tão azul está vazio.

A quadra de tênis está vazia.

Só eu, na janela, sonho.

G.A., 89 anos
01 de junho de 2020

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O mundo amanheceu diferente, há algo de estranho.
De dentro de casa, o tempo passa de outra maneira.
A realidade é outra, quando vista pela janela.
Os relatos do dia a dia demonstram sentimentos comuns e distintos.
O que está acontecendo?

Hoje eu me olhei no espelho e me vi mais velha, me vi diferente

C. C., 24 anos

Agora ficou tudo assim, preso aqui no mesmo espaço.

A. R., 50 anos

A alma deste lugar são os alunos. Sem eles, parte do sentido se perde.

C. R., gestora escolar da rede pública de ensino

Meu desejo é ir até as pessoas.
Estar junto.

D. A., 56 anos

Parece que a gente tá vivendo um domingo eterno.

C. V., 18 anos

Hoje é domingo e fiz algo extraordinário para esses tempos de pandemia: saí de casa.

M. M.

Ilusão

P. N., 35 anos

Aqui eu vejo prédios, lá eu via o mar.

M. L., 31 anos

Estava em um quiosque com amigos, família, tomando uma cerveja, comendo torresmo. Dizia, nossa, que saudade de fazer isso.

Anônimo

Olhar pela janela o que acontece lá fora tomou uma outra dimensão. Isso é morar sozinho.

D. B.

O cotidiano já é outro, os dias são reinterpretados.
As relações — com as pessoas, com o tempo, com o mundo — ganham novos significados a partir de perspectivas distintas.
Como se adaptar à nova vida?

Nós estamos assim: presos, tomando sol através da janela.

M. E., 73 anos

Geografia na parede! Reinvenção e busca na pandemia. Minha lousa da Aula on-line de 31 de julho de 2020.

G.B., professora da rede municipal de São Paulo/SMESP

O que mais sinto falta é andar de bicicleta. Eu realmente sinto falta de poder pedalar, sem a sensação de que estou fazendo algo errado.

M. B., 28 anos

Do nada, tudo mudou, e não parece que vai passar num estalar de dedos, parcelei a bicicleta e saí pra rua.

W. A., entregador de aplicativo, 21 anos

Este relato faz parte do livro “A pandemia que ninguém vê”, do projeto SP Invisível

Isso fez a vida parecer normal por um curto período de tempo.

A. B., 22 anos

Meus melhores momentos são quando retorno para casa.

C. A. B., 58 anos

Este relato faz parte do livro “A pandemia que ninguém vê”, do projeto SP Invisível

Ele ficou indignado, dizendo que o presidente não podia invadir a nossa casa.

Anônimo

Frequentemente, um ou outro grupinho de crianças pulam os muros da escola fechada para brincar nos espaços externos

Coordenadora Pedagógica da rede Municipal de São Paulo/SMESP

Nunca me senti tão perto de tudo

C. M., 72 anos

Saudades das conversas de bar. De destilar pensamentos livremente

N. L., 26 anos

Finalmente, eu acho que estou entendendo um pouco como usar a tecnologia para me ajudar e não para me prejudicar

D. S., 30 anos

É uma forma de aplacar a saudade

L. L., 33 anos

É a forma que encontrei de mandar o nosso amor para ela

F. G., 40 anos

Eu sinto falta de sentir falta dela, de esperar para vê-la no fim do dia

Anônimo

17h. Está escurecendo. A última faixa de luz cobre meu rosto.

E. V., 22 anos

Chega a noite e fica mais difícil enxergar qualquer perspectiva.
Se a realidade já não é a mesma, o que dizer dos sonhos?
Na falta de contato, sobram o vazio e falta.
Para onde tudo isso vai nos levar?

Parece que o tempo parou para nós que tanto queríamos um pouco mais de tempo.

A. A. A. O., 56 anos

Quero viver como pessoa no século XXI.

G. S.

A gente fica assim, com a sensação de que está perdendo tempo.

M. E., 73 anos

A felicidade também é compartilhada num condomínio.

E. B., 41 anos

Este relato faz parte do livro “A pandemia que ninguém vê”, do projeto SP Invisível

Eu tenho sonhado. No sonho eu sou amiga de um tal de "deus do vinho".

T. I., 26 anos

Uma pessoa que passava disse que os bombeiros tinham sido chamados e completou: não se preocupe, é de açúcar.

Anônimo

O quarto fica mais estreito, parece vazio. As paredes estão se fechando. Chega de espaços fechados. Eu quero salas abertas.

D. T.

As horas passam.
O medo ocupa o tempo e o espaço, e a falta de esperança é uma constante.
Quantos já se foram, quando ainda iremos perder?
Quais são as histórias que preenchem as horas mais escuras?

Até nos encontrarmos de novo

V. A., 37 anos

Também corro riscos. Mas é que a situação no Brasil é tão desesperadora... Tenho muito medo por eles.

C. S., 32 anos

Eu não posso ser quem você quer que eu seja neste momento.

E. V., 22 anos

Elas não entendem. Estão saudáveis e vão permanecer saudáveis. É o que elas acham. Estou sozinho nessa.

C. R., 25 anos

Este relato faz parte do livro “A pandemia que ninguém vê”, do projeto SP Invisível

Eu quero recordá-lo com maestria e muito carinho

T. S., 24 anos

Era de madrugada e tinha muitas pessoas sendo enterradas, outras correndo e chorando. Fiquei com medo

Anônimo

Este relato faz parte do livro “A pandemia que ninguém vê”, do projeto SP Invisível

Estou cansado de sentir como se eu estivesse caindo. Quem mais vou perder?

G.

A visão de meu computador e celular me aborrecem, estou emocionalmente cansado, farei um chá.

P. E., professor da escola pública do Estado de São Paulo.

É da esperança dela que eu sinto mais falta

E. M., 23 anos

Um novo dia virá.
Mesmo diante das incertezas, há momentos que renovam a esperança.
O que esperar do futuro?
Quais narrativas serão contadas quando os tempos forem outros?

Tem que pegar o que sobra. Hoje, logo pela manhã, sobrou o cheiro gostoso do café”

F. S., 41 anos

Me aproximo da água maravilhada com as cores de tudo e penso: passarei o resto da minha vida pintando.

Anônimo

Eu achei muita coincidência: ela falando em pensar no futuro dela e eu com medo da morte.

R. M., 54 anos

Olhar para o futuro hoje parece estranho.

A. A. A. O., 56 anos

A frase "esperar mesmo não sabendo o que esperar" nunca fez tanto sentido

T. S., 24 anos

E um dia minha neta vai saber pela professora que no ano em que ela nasceu aconteceu a Pandemia.

M. F., 70 anos

Espero que isso acabe e eu volte a reclamar de acordar cedo pra ir pra escola

S. M., 14 anos

Esta exposição é resultado do projeto Diário Para o Futuro, uma campanha colaborativa para coleta de relatos cotidianos sobre a pandemia realizada pelo Museu da Pessoa entre maio e outubro de 2020 no Brasil e entre janeiro e abril de 2021 na Holanda, em parceria com a School of Fine and Performing Arts da Fontys University. Ao todo, 594 depoimentos foram recebidos e passaram a fazer parte do acervo do Museu da Pessoa.

Integram também esta exposição relatos colhidos pela iniciativa "Inventário de Sonhos", que desde o início da pandemia já coletou mais de 2.000 sonhos narrados, histórias do projeto "Reinventar-se: Narrativas Digitais da Docência em 2020", que registrou memórias, impressões e vivências da vida cotidiana docente, coletando produções digitais que versaram sobre mudanças, adaptações e dificuldades no trabalho domiciliar durante a pandemia da Covid-19 e relatos do projeto SP Invisível, um movimento de conscientização da sociedade através das histórias da população em situação de rua, que lançou em 2021 o livro “A pandemia que ninguém vê”.

A pandemia não chegou ao fim, ainda há muitas histórias a serem contadas. Por isso, o Museu da Pessoa reabre a campanha Diário Para o Futuro para continuarmos construindo uma memória coletiva deste momento.

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